Ela não
passava de uma jovem garçonete obrigada a ganhar a vida, ela corria por entre
as ruas do subúrbio tingidas de marrom, preto e cinza a neve que caiu se
misturara ao asfalto e a lama, ela corria estava atrasada não queria ouvir mais
um “vou descontar do seu salário”. Ela não passava de uma jovem garçonete que
não esperava muito da vida, apenas sobreviver mais um dia, não tinha sonhos e
nem ideais, ela desaprendera á sonhar, esquecera a imaginação e aprendeu a
conviver com a dor e o sofrimento, mas bem no seu interior ela ainda tinha um
desejo que resistia a tudo, voltar a sua cidade natal e talvez, só um talvez,
rever sua mãe. Ela respirou fundo, entrou pela porta dos fundos, tirou seu
velho casaco, suas luvas e os pendurou, pegou seu avental amarelo desbotado,
ah! Como odiava essa cor, vestiu-o prendeu os cabelos e foi para frente anotar
preparar os pedidos, já com o seu bloquinho em mãos olhou para o caixa onde seu
patrão costuma ficar, suspirou de alivio, ele não estava em lugar nenhum “melhor
assim” ela pensava “com tantos descontos acabarei sem salário no final do mês”.
Ela viu sua amiga que trabalhava junto com ela:
- O Patrão
Carlos ainda não chegou?- Perguntou-lhe
- Não, ele
não costuma se atrasar diferente de você- ambas riram conjuntamente – Sorte sua
amiga.
- É- ela
sorriu- Ainda bem, obrigada por me cobrir, Luana.
- Não
precisa agradecer- Disse Luana. Luana era sua melhor amiga a primeira que teve,
se conheceram na escola em seu primeiro dia de aula, amizade sincera de
infância.
- Mas você
tem que parar de se atrasar.
-Ah! Luana,
Sabe muito bem o porque dos meus atrasos.
- Sim Eu se,
porém vai acabar perdendo o emprego, o patrão junta todos os atrasos e completa
uma falta inteira.
- É eu sei,
mas não tenho... - neste momento ela foi interrompida:
- Ei, vocês
duas Não as pago para conversarem – era o Carlos, o tão temido patrão, que
acabara de chegar- Voltem para o trabalho. Agora!
“Sujeitinho
desprezível e ganancioso não tem um pingo de compaixão” ela pensava
consigo mesma e entre um pedido e outro entre cafés, bolinhos, ovos e muito
mais, ia se passando o tempo.
Ela não
passava de uma jovem garçonete que trabalhava em uma velha cafeteria e
lanchonete em meio aos prédios cinzentos, uma pequena cafeteria de esquina que
não parecia se encachar que mais parecia resistir, resistir não fora esquecida
pela chamada modernidade e que ainda conservava aquela velha maquina de torrar e moer café que mesmo dando alguns
problemas ,e sendo necessário agredi-la de vez em quando, ainda cumpria com
eficiência seu trabalho, liberando no ar um leve odor de café que compunha o
ambiente daquela velha cafeteria.
Às
vezes ela se perguntava “ como eu vim parar aqui?” fechava os olhos, respirava
fundo e voltava ao trabalho.
Ela tinha poucas lembranças de sua
infância naquela pequena cidade com sua mão, Ela se lembrava da canção de ninar
que sua mão cantava para ela dormir ou parar de chorar. Seu pai viajava muito,
ela se lembrava de esperar ansiosamente por ele e de vê-lo da janela, descer as
escadas correndo gritando “Mamãe, mamãe o papai chegou” de vê-lo abrindo a
porta, vindo de encontro pra um caloroso abraço e de tudo começar a mudar
brigas separação sua mãe arranjando um novo marido, ele era bom, mas ”ele não é
o papai”, do pai começar a vim menos vezes, de mais e mais brigas e de choro já
nem havia mais abraços e nem sorrisos largos. Ah! Ela se lembra totalmente
daquele dia:
- Arrume suas coisas- disse seu pai ao
chegar
- Você! Você não pode entrar aqui,
aqui não é mais sua casa. O que vai fazer?- disse sua mãe ao vê-lo entrar.
- Cale a boca mulher!- ele disse
gritando.
- Mas papai- ela disse entrando em seu
caminho quando ele se encaminhava para sua mãe.
- Vá arrumar suas coisas- ele gritou e
ameaçando com a mão gritou- anda. Vai logo!- ela correu para o quarto acima,
ouviu gritos e mais gritos:
-Vai leva-la? Não pode- sua mãe
chorava desesperadamente
- Você não diz que ela só de dá
problemas? Pois não vai dar mais- e em
seguida tudo se passou com um relance, quando ele chegou em seu quarto, ela
estava em um canto chorando- Ainda não arrumou suas coisas?- gritou entrando
pelo quarto- eu tenho que fazer tudo- pegou a mala no armário e colocou tudo o
que viu dentro, segurou em seu braço e a puxou escava a baixo, sua mãe estava
quase desacordada ao pé da escada, ainda sonolenta tentou levantar-se e
impedi-los mas ele a jogou para o lado, ela tentou agarra-se a mãe mas ele a
pegou no colo e se foi pela porta a ultima lembrança que ela tem de sua mãe é a
imagem por cima do ombro de seu pai, a imagem de sua mãe gritando e chorando se
distanciando e ela chorando e gritando “ mamãe, não mamãe”.
Ela não se lembrava de como fora parar
no banco do trem apenas de ficar calada e chorando sentada ao lado do pai, . Aliais só sabia que era um trem porque ao fundo havia um abito e barulhos
típicos da movimentação de um trem. Não
se lembrava de como foi parar naquela casa apenas de subir três degraus e de
chegar a um portão de madeira de um tom de marrom bem claro, de que ao abri-lo
dava para um pequeno corredor com uma
escada ao lado direito, de ter quadros na parede e três portas uma um pouco
depois da escada e as outras do lado contrario, as paredes eram laranjas e a
escada de madeira velha marrom escura. Lembra-se de entrar empurrada pelo pai.
- Querida cheguei- disse seu pai, ao
dizer uma mulher branca, ruiva, estava gravida, suas roupas eram surradas, seu
cabelo parecia um ninho.
- Então essa é a menina? – ela disse,
tinha uma voz rouca e irritante.
- É, é ela – respondeu o pai. A mulher
a olhou e olhou para ele de novo.
- Quantos anos ela tem?
- Tem sete- seu pai disse entrando em
uma das portas. A mulher se aproximou:
- Muito bem querida é o seguinte, meu
nome é Caren sou sua nova mamãe, essa é sua nova casa- Ela parecia bêbada e
louca- você está vendo aquele garoto ali?- disse apontando para um garoto
encostado na entrada que ficava ao lado direito, ele era magro, branco, loiro e
tinha um olhar tão mal que a assustou, era uns três anos mais velho que ela-
Aquele é seu irmão, Brayan.
Ela nunca entendeu se sua mãe e ela
eram e segunda família ou esta, não sabia também se aquele garoto era seu irmão
afinal aquela mulher também não era sua mãe.
- Queridinha, me diz qual é o teu
nome?- Caren disse voltando a encarara-la. Ela estava tão cansada, assustada e
querendo chorar.
- Anda menina responde- gritou Caren,
Ela engoliu em seco e tentou responder.
- A...a...an...
- Na que desgraça de nome é esse?
- É Anne, mulher burra e vê se faz
algo de útil...- a voz de seu pai ecoou em seus pensamentos